terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Escola do Campo: uma justa homenagem à irmã Adelaide Molinari




Damião Solidade dos Santos[*]
Uma justa homenagem foi realizada na Vila Canaã, situada próxima do rio Sororó, na área do Projeto de Assentamento Piquiá (antigo Castanhal), no km. 35 da rodovia federal BR 155 (trecho recentemente federalizado da rodovia estadual PA 150), no município de Marabá. Ato materializado com a denominação da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Adelaide Molinari”, uma Escola do Campo.
Adelaide Molinari nascida em 02 de fevereiro de 1938 em Garibalde – Rio Grande do Sul foi consagrada freira em 1964. Em 1983 foi transferida para a Diocese de Marabá. Pertencente a Congregação Filha do Amor Divino, trabalhava nas comunidades de Eldorado do Carajás e Curionópolis, morava nesta última e apoiava as organizações populares principalmente o Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais (STTR). Nestes municípios  tem escolas e centros com seu nome. Anualmente é realizada uma romaria em sua memória.
Foi brutalmente assassinada com um tiro de revólver, que lhe atingiu o pescoço, dia 14 de abril de 1985, na estação rodoviária de Eldorado do Carajás, com 47 anos de vida. Tendo como acusado José de Ribamar Rodrigues Lopes “Zé de Bomba”. O alvo principal era Arnaldo Delcídio Ferreira (na época presidente do STTR), que sobreviveu mesmo a bala tendo transfixado seu pescoço. Vindo a ser assassinado em 1993.
Nos dias, 28 e 29 de abril de 2004, depois de 19 anos de luta dos movimentos sociais, ocorreu em Curionópolis o julgamento, sendo que o acusado foi absolvido por 5 a 2 votos. O Ministério Público solicitou novo julgamento. Reina a impunidade para mandantes e assassinos. Informações sobre o andamento pode ser obtida na Comissão Pastoral da Terra (CPT), organização ligada a Igreja Católica que presta assessoria jurídica aos Movimentos Sociais do Campo (telefone 94 – 3321 – 1461), Travessa 13 de Maio, Centro – Marabá. www.cpt.org.br
A luta pela posse da terra no Brasil, sobretudo no estado do Pará, tem custado à vida de muitas pessoas: religiosos (as), agricultores (as), índios (as), advogados. Mencionamos alguns exemplos: o advogado popular Gabriel Sales Pimenta (1982) que também tem uma Escola com seu nome no Núcleo Morada Nova, o advogado Paulo Fonteles (1987), irmã Doroth Stang (2005) e recentemente os ambientalistas José Claúdio e Maria do Espírito Santo (2011), este julgamento não pode ficar impune. Isso sem falar nas chacinas e massacres.
Este texto foi elaborado em 2005 para introduzir o estudo da disciplina de Estudos Amazônicos. Na época atuei como professor na referida escola. Que sirva de estimulo para que os/as professores/as organizem e/ou adequem seus próprios materiais didáticos e utilizem o jornal na sala de aula. Esperamos que depois de mais de três décadas de muitas lutas e mortes, mas também de conquistas e avanços do campesinato, tenhamos uma vida mais digna e sustentável.
Referências
JORNAL OPINIÃO. Marabá, 27 e 28 de abril de 2004. Edição n° 997, seção: polícia, p. 7.

Publicado originalmente no Jornal Opinião, Marabá– PA, 05 e 06 de fevereiro de 2013 Edição: 2288, p. 2.



[*] Professor na Rede de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Marabá (SEMED) e Extensionista Rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER-PARÁ). dsolidade@bol.com.br

2 comentários:

  1. Conheci o "Zé de Bomba" na minha infância e juventude em Marabá-PA. Ele jogava no futebol amador de Marabá que, até então, só havia futebol amador. Foi defendido no julgamento por um advogado da família Santis de Marabá a qual a família de "Zé de Bomba" é ligada. "Zé de Bomba" foragiu-se por que? Seu irmão me contou que, após o acontecido, "Zé de Bomba" chegou a ser morador de rua no Rio de Janeiro. Pergunto-me: Se "Zé de Bomba" não foi o autor do crime, porque ele fugiu?

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  2. George o texto usou como o fonte o jornal referenciado, o objetivo principal do texto foi fazer um pequeno registro histórico sobre a Irmã Adelaide.

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